Bichos

Ando nas ruas,
em silêncio,
os olhos,
fechados.

É a impressão que se tem,
quando no meio de tanta,
não vê, nem ouve ninguém.

Bichos soltos,
desesperados,
sem rumo,
sem teto,
sem nada,
sem ninguém.

Desperdício de vidas,
falatórios promíscuos,
visões incertas,
não há nem mesmo um espelho
a refletir esses rostos mórbidos
que andam por aí.

[seja um bicho pra mim: bicho.]

Ateu, graças a Deus.

Ateu, graças a Deus.
- isso, Deus com "D" maiúsculo viu? -
O quê..?
Você não entendeu!?
O que há de errado, o "ateu" ou o "graças a Deus"?
Certo, deixa eu tentar explicar.

"Teoricamente" e por definição, ateu é aquele que não acredita em Deus,
deus ou deuses e eticetera...
E se não crê, não dá graças
- porque não acha devido -
certo?

Então, se alguém diz ser alguma coisa e dá graças a Deus por isso,
ele quer dizer, que ele é, o que é
- seja lá o que for -
graças a alguém
- ou a alguma coisa -
e reconhece e aceita aí,
que aquele à quem são dadas as graças existe "."
- e ponto solitário viu? -

Viagem né?
Pois é,
isso porquê você não se ligou que a frase polêmica,
- lá em cima -
não passava de uma ironia
- pelo menos de minha parte -
uma sátira à idiotias que bóiam por aí,
insistindo na não existência de Deus.

Sabe de uma coisa..?
Acreditando ou não em Deus,
na hora do aperreio - Deus - é o primeiro nome que o homem lembra.
Prova de que a criatura, querendo ou não, está
- mais que se possa imaginar -
ligada inegavelmente ao Criador.

Sobre Deus,
tudo é dizer nada, e nada é vazio.
Tudo não define Deus.
Nada define Deus.
Deus não se define, porque definir
- de fim -
é limitar alguma coisa,
tente então limitar as estrelas no céu,
- não vale as do cinturão de órion -
arrique o sistema onde se encontra vega!
Sinta-se em casa limitando a via láctea - a nossa galáxia -
dê um limite a rotação ou a translação,
faça-os parar!
Reprima o ar, vento,
joga-te só, ao mar,
faça com paixão qualquer uma dessas coisas,
depois explique de onde veio o saber,
do sábios,
dos homens,
dos primeiros,
deles,
deles todos, que o digam Sócrates, Platão, Einstein, Nesh ou Salomão.
Vai, dê um limite à tudo,
e vê, não haverá nada.

Deus, deus, quem?

Deus,
- assim com "D" maiúsculo -
não explica,
não define,
Deus é.

É, do verbo ser,
para todos os substantivos, adjetivos e eticetera e eticetera.

Deus,
por isso,
Ateu, - ou qualquer outra coisa - graças a Deus.


Não fosse Deus, não era nada e nada mais que vazio,
se com Deus me acho só, sem ele, não haveria mais nem o pó. - o meu! -

Quando achamos, é que perdemos.

Como explicar essas coisas que acontecem sempre,
isso que vem em confronto com tudo aquilo que pensamos
[achamos é melhor],
sabe quando tu está bem, rindo à toa, não só por assim dizer,
quando tu está sentindo aquela coisa boa que tu não sabe explicar de onde vem e..
a certo ponto percebe que não era bem aquilo,
saca toda aquela fantasia, aquelas viagens que passavam borbulhantes em tua cabeça?

Puta que o pariu!
Era tudo maquiagem!

Maquiagem que foi passada em teu rosto contra tua vontade ou não,
porque muitas vezes nos propomos pelos motivos mais fúteis possíveis a se submeter a estereótipos que destroem nossas identidades e nos levam a este estado perverso de não saber ao certo quais seus valores particulares, pelo menos aquilo que intimamente traduz tua existencia, e isso é horrível, torturante! E não se trata de um drama, porque essa situação aparentemente exacerbada não é particular a um, mas a todos, é uma loucura coletiva, infelizmente diga-se de passagem.

Quando achamos (que tudo está uma maravilha, que seremos felizes, se estáticos e conformados permanecermos), é que perdemos. Perdemos a graça, perdemos! Ai, perdemos!

Resta-nos apenas a melancolia degradante que escorrega no corpo de tanto lixo cultural que sujam toda uma vida, toda uma cidade enfim...
Resta-nos
[os remanescentes]
Resistir, insistir e produzir!
Arte pela sobrevivencia, vamos lá, valorize tua existencia!

Na beira do poço




Eu vi o moço na beira do poço,
Olha o moço na beira do poço!

O que faz aquele moço na beira do poço?
O moço, coitado, nem parece estar acordado,
Mais parece um bocado de osso na beira do poço.

Vida seca,
Corpo sem carne,sangue...(...)
Só retrata o infinito esforço do moço na beira do poço.

Vi o moço sofrendo na beira do poço,
Me pus a chorar,
Como pode o moço morar na beira do poço?

Vi o poço do moço quase seco,
Bem perto do fim,
Me deu um desgosto ao ver aquele moço na beira do poço olhando pra mim.

Mas, mais desgosto tenho ao ver
Aquele monte de moço dentro daquele poço formoso que tem lá pro rumo dali.

Mas se acalme moço,
Que um dia nós sai da beira do poço,
Vamos fazer valer todo nosso esforço,

Não morra moço que você já sai da beira do poço,
E não vai tomar mais esse caldo insosso que só te deixa ficar na beira do poço.

Sobreviveremos nós, os passageiros?

Hoje a tristeza não é passageira, hoje a tristeza é de pais, mães, filhos, amigos, irmãos e irmãs de passageiros, que não passaram livres da tempestade que castiga o já tão massacrado país. Como se já não bastasse as surras que levamos todos os dias de responsáveis idiotas que não se responsabilizam por nada, vem a “pisa” que é a crise aérea que só se agrava e grava no peito de cada um envolvido, o desespero, a tristeza, a revolta enfim, a angústia de ter que engolir mais uma que traz outra e se tornam outras.

Veio a primeira grande e sinistra tragédia, foram mais, bem mais que cem, que sem culpa alguma tiveram suas vidas ceifadas por algo até hoje não bem explicado, para a angústia de outros mil, milhares, milhões de inocentes que pouco podem fazer e menos ainda fazem para mudar alguma coisa.

A vergonha aumenta quando o mundo acompanha pela TV a humilhação de outros tantos passageiros passados pelo corredor de quase morte moral que se tornou a situação dos serviços de transportes aéreos deste país.
Não tanto tempo depois (dez meses para ser mais exato) quase como objeto de uma premonição acontece a maior tragédia da história da aviação brasileira. São quase duzentos os que perderam suas vidas, são incontáveis os que perderam os ânimos para continuar e seguir em frente. Atos “oficiais” surgem por toda a parte dos governantes, mas mais oficial é a grande tristeza em que se encontra o país diante disso, que parece não ter fim.

De quem é a culpa? Eu pergunto.
De quem é a culpa? Você pergunta.
De quem é a culpa? As famílias em luto perguntam.
De quem? De quem?

A caça às bruxas foi aberta. Caçadores enfurecidos jogaram-se ao ar, mas não sabem, coitados, que as bruxas, com seus poderes mágicos, místicos, podem e vão fazer com que logo tudo fique “calmo” todos logo voltarão a sorrir e seguir suas vidas até o dia em que todos terão os seus encantados finais felizes. Kazam!

18/7
Teddy, como o Brasil, em luto, e puto! Muito puto com essa puta!(ria) sem vergonha com o codinome politicagem brasileira.

A folha

Vê, caiu uma folha,
seu cair leve me fez
respirar devagar,

a folha caiu devagar,
o vento a tirou pra dançar,
ele a levava pra lá e pra cá,
a fazia balançar,
mesmo sem música,
havia um ritmo,
um suave tocar,
o vento a manipulava,
ele a tirou pra dançar,
ele atirou e acertou,
ele a tirou,
a tirou dali,
deixou-a orfã,
ele a levou,
a levou pro ar,
a fez feliz,
deixou-a saber de seu nariz,
ao menos por um instante,
ela soube que podia sentir algo diferente,
ele lhe fez bem,
o vento a envolveu em seu corpo,
a fez dançar em suas costas,
seu peito, seu rosto, seu tudo,
ela sentiu, ela se perdeu,
por isso balançava,
ela foi feliz,
enquanto caía, ela foi feliz,
ela foi,
foi feliz.

teddy

Se a vida fosse ser'vida

Se a vida fosse ser'vida,
eu, sem vergonha, a compararia com a comida,
como em um sistema "sirva-se", a provaria toda,
com todos os seus sabores (dores e amores),
com todos os seus odores (amantes e conquistadores),

se a vida fosse ser'vida,
eu, sem medo, provaria todos os gostos (e não pagaria meu imposto),
porque se a vida fosse ser'vida como a comida,
existiria sempre uma saída (não é?)

se a vida fosse ser'vida,
eu, seria um pecador de um pecado só, pois eu iria extrapolar
todos os limites da gula, e a aproveitaria sem culpa ou medo de engordar,
porque se minha gordura fosse sinônimo de vida vivida eu seria um fofo de mil kilos!

se a vida fosse ser'vida
ela seria muito mais e melhor vivida,

se a vida fosse ser'vida,
ela não seria chamada vida e nem seria subvertida ao abstrato e
não existiria tantos contratos!

Mas como a vida não é ser'vida,
eu a vivo, como VIVO, e não leio o "necronomicon",
eu a vivo, como VIVO, e faço jus ao que dizem que sou: vivo.